2009-03-17

A dureza das cadeiras

Foi ontem a tomada de posse dos membros eleitos do conselho geral da Universidade do Minho (UM), o órgão máximo de governo da universidade. O acto ocorreu ao final da tarde. A alguns dos eleitos desejou-se felicidades, a outros boa sorte. Nalguns casos, um "juizinho" talvez fosse mais indicado, mas o momento era solene e de cordialidade.

Ainda assim, o conselho geral da UM não começa bem. E não começa bem não só por ter sido empossado pelo reitor - um órgão hierarquicamente inferior, o que significa algo idêntico caso o Governo desse posse à Assembleia da República! Na verdade, não é tanto este aspecto protocolar e simbólico que nos deve preocupar pois, afinal de contas, alguém tinha que empossar os eleitos. E qualquer que fosse o protocolo seguido, ele seria criticável. Mas, para além de alguns eleitos - entre os quais, significativamente o cabeça de lista da lista mais votada entre professores e investigadores - não terem tomado posse por impossibilidade pessoal , assistiu-se a uma breve, demasiado breve, cerimónia com os rituais em tudo idênticos aos da tomada de posse do passado para órgãos e funções sem a relevância do conselho geral.

Para além disso, se de facto, a participação, o exercício da cidadania, a democracia e outros projectos de boa vontade fazem parte do discurso prevalecente na UM - traduzidos nos seus estatutos com a expressão «A Universidade do Minho tem como missão gerar, difundir e aplicar conhecimento, assente na liberdade de pensamento e na pluralidade dos exercícios críticos» - então é difícil entender como a cerimónia pública de ontem não foi um momento de aplicar estes princípios. À luz daquele enunciado, numa oportunidade rara como esta, eu teria esperado ouvir intervenções das cinco listas eleitas (três dos professores, uma dos alunos, uma dos funcionários). Desejavelmente curtas - que ninguém tem paciência para a retórica inconsequente - e com a solenidade institucional do momento, mas substanciais e com ideias e projectos para o futuro. Mas não foi nada disso que se passou. Fiquei desconfortável. E não foi pela dureza das cadeiras.
© Vasco Eiriz. Design by Fearne.