2008-05-22

Organizar universidades

Uma das questões interessantes suscitada pela lei de 2007 sobre a governação das instituições de ensino superior é a forma como se organiza uma universidade. Até que ponto as estruturas existentes – vulgo faculdades –, baseadas em áreas consolidadas do saber, respondem aos desafios que se colocam hoje ao conhecimento e à sociedade? A questão coloca-se igualmente nos níveis hierárquicos inferiores – o dos departamentos – e em estruturas paralelas que são muito comuns em várias instituições.

Por exemplo, uma questão suscitada por Jaime Rocha Gomes é saber como estruturar uma faculdade de engenharia. Eis a sua leitura como professor da Universidade do Minho (UM): «Os Departamentos não são uma mais valia para o actual sistema, são em vez disso uma forma de limitar o cruzamento de ideias. Numa época de ciências transversais, que atravessam as várias áreas do saber, e muitos sectores industriais, não se ganha nada em ter um departamento de Engenharia Têxtil, outro de Polímeros, outro de Mecânica, outro de Civil e outro de Electrónica, todos eles representativos de sectores industriais. Hoje, fala-se em materiais em todos estes departamentos. Os processos, que antes prevaleciam como cópia dos sectores que estes departamentos representavam, estão automatizados e perfeitamente ao alcance de um técnico especializado. A inovação na engenharia resume-se quase completamente aos materiais. Hoje, os materiais tendem a ser compósitos, envolvendo fibras, polímeros, metais e materiais inorgânicos. E depois há os nanomateriais, as nanopartículas, as nanofibras, os nanorevestimentos. Até parece que a escala nano tomou conta dos materiais. Neste cenário que sentido faz termos os departamentos já mencionados?»

Por se tratarem de questões que merecem ser discutidas, vale a pena participar na tertúlia que vai debater precisamente as áreas estratégicas para o desenvolvimento da UM e da sua Escola de Engenharia em particular, e a autonomia das unidades orgânicas (as tais faculdades ou escolas) e das sub-unidades orgânicas. A tertúlia terá lugar a 29 de Maio, a partir das 14,30 horas, no anfiteatro B1.10, no campus de Azurém (Guimarães) da UM.

E já agora que a questão se coloca na engenharia, porque não a colocar também numa escola de economia e gestão que inclui ainda áreas como administração pública, ciência política e relações internacionais? Ou até, só para citar os termos mais comuns na UM, porque não colocá-la noutras áreas como as ciências sociais, ciências humanas, ciências naturais, humanidades, letras, arquitectura, arte, ou saúde?
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