2006-11-30

Connectis

A subjectividade no conhecimento
Por Miguel Gonçalves

Numa das minhas viagens ao blogue Empreender, descobri um ícone denominado citador. Ao fazer um clique, em escassos segundos, fui parar a um site. Naveguei durante alguns minutos e quando dei por mim, estava eu, no século XVII, algures na Inglaterra onde encontrei um poeta chamado John Milton, que dizia: “onde há uma grande vontade de aprender, haverá necessariamente muita discussão, muita escrita, muitas opiniões; pois as opiniões de homens bons são apenas conhecimento em bruto”.

Compreender o misto de opiniões constitui um marco importante na gestão do conhecimento. Entender que existem diversos pontos de vista, interpretações diferentes, distintas abordagens para o mesmo contexto, assegura que a empresa não ignore este facto. Pelo contrário, ao haver uma percepção clara, objectiva e precisa, de tais divergências, a organização terá uma perspectiva mais elucidativa no combate à subjectividade, por forma a criar um entendimento comum, que visa ultrapassar eventuais constrangimentos, com o objectivo de alcançar ganhos exponenciais.

A existência de divergências poderá prejudicar ganhos potenciais; a não resolução deste "handicap" potencia uma heterogeneidade de interpretações, uma completa desarrumação do conhecimento, que poderá influenciar negativamente a vantagem competitiva e o sucesso empresarial. Por exemplo, os diferentes pontos de vista poderão advir das múltiplas experiências profissionais ou de posições hierárquicas distintas. Ou seja, os gestores terão uma perspectiva prática, direccionada para determinados aspectos empresariais, a qual será, certamente, divergente, com a experiência dos trabalhadores de uma linha de montagem. No entanto, ambas as perspectivas são essenciais e vantajosas para o sucesso da empresa. O conhecimento é gerado pelo entendimento comum de diversos pontos de vista.

Para se atingir os objectivos da empresa, é necessária uma comunicação eficaz ao longo das diferentes hierarquias da organização. Gerar este fluxo de comunicação por vezes pode ser complicado. Assim, a comunicação deverá ser feita nos dois sentidos. É primordial que a mensagem não sofra distorções resultantes de potenciais ambiguidades, e que a mesma, ao fluir de níveis hierárquicos superiores para níveis inferiores seja compreendida de forma objectiva, exacta e rigorosa. Por outro lado a valorização ou a sobreavaliação do estatuto e/ou nível hierárquico poderá criar e alargar fossos entre os colaboradores de diferentes níveis hierárquicos, potenciando débeis entendimentos, frágil partilha de conhecimento e ineficácia na comunicação.

Em suma, para que a subjectividade não influencie de forma nefasta o conhecimento, dever-se-á ter capacidade de compreendê-la, evitar interpretações de vários níveis, existir um fluxo de comunicação transparente e multi-direccional, agrupar as várias experiências subvalorizando as posições hierárquicas e sincronizar os objectivos da empresa com o intuito de possibilitar um entendimento comum por forma a permitir a criação de valor e conhecimento eficaz.

Miguel Gonçalves, licenciado em Gestão de Empresas, pelo Instituto Superior de Línguas e Administração de Santarém; é Técnico Superior no Instituto do Emprego e Formação Profissional; possui um mestrado em Contabilidade e Administração promovido pela Universidade do Minho, onde apresentou a dissertação intitulada “Redes Institucionais de Conhecimento: Estudo de uma Rede na Indústria Têxtil e do Vestuário”.

Aprendizagem e ensino através de projectos

Recentemente fiz um curso sobre aprendizagem/ensino por projectos. Feito numa escola de engenharia, precisamente uma área do conhecimento bastante propícia a este método. Esta é uma metodologia que me esforço por aplicar em Empreendedorismo, uma das disciplinas (chamam-se agora unidades curriculares) que lecciono. Mesmo reconhecendo limitações importantes e alguns riscos nesta abordagem, nomeadamente a tendência que, quando não bem doseada, pode provocar para uma formação excessivamente aplicada e politécnica, a metodologia parece-me muito válida. Por isso isso mesmo "Project-Based Learning in Post-Secondary Education – Theory, Practice and Rubber Sling Shots", artigo das filandesas Laura Helle, Päivi Tynjälä e Erkki Olkinuora merece ser lido (Journal Higher Education, Volume 51, No. 2, Março de 2006):

"The purpose of the study was to explore what project-based learning is, what are the pedagogical or psychological motives supporting it, how it has been implemented and what impact it has had on learning in post-secondary education. The study is based on a qualitative review of published articles. The work revealed that the majority of articles on project-based learning are course descriptions focusing on the implementation of individual courses, whereas serious research on the topic is virtually non-existent. In addition, the term project-based learning subsumes different activities with varying purposes. Therefore, practitioners and curriculum developers are encouraged to reflect upon the purpose and possibilities of project-based learning along with students and to set realistic, clear goals. Practitioners and researchers are urged to document courses even more carefully. Several issues for further research are identified."

2006-11-29

Trabalha mais e melhor

Telefonam-me e perguntam-me o que achei do debate da RTP desta semana sobre o ensino superior. Gostava de poder dizer que foi isto, que foi aquilo, que foi uma maravilha, que o reitor das tantas é que foi bom, que o ministro procurou conciliação e que Adriano é omnipresente. Mas fui sincero. Ao intervalo fui deitar-me, logo no fim do primeiro "round". Impávido, estava a assistir à discussão e tinha a forte sensação de que tudo o que estava em cima da mesa não oferecia novidade de monta. No período de tempo em que assisti, o espectáculo fez-me lembrar aqueles filmes que a gente até vai ver porque já leu o livro, mas depois tudo fica uma tremenda desilusão porque inclusive o argumento teve que ser aligeirado para consumo da tela. Foi por isso que me fui deitar cedo. A todos os participantes no debate, Empreender dedica-lhes este cartaz.


Oxford rejeita reforma

"Oxford University reformist vice-chancellor was dealt a serious blow yesterday as a congregation of dons rejected a package of administrative reforms that would have made the university function more like a modern corporation. After a three-hour debate in the Sheldonian Theatre, 730 members of the "dons’ parliament" voted against implementing the white paper on university governance championed by John Hood, while 456 voted in favour. The paper included reforms that would have taken some administrative powers out of the hands of academics, where they have rested for 900 years, and shared them with outsiders appointed to the council, the central decision-making body for academic policy and university strategy."
The Times Higher Education Supplement, 29 de Novembro de 2006, baseado no The Financial Times, The Guardian, The Daily Telegraph, The Times, e The Independent

Uma parceria informal

No dia de hoje, há exactamente 31 anos, um senhor de seu nome Bill Gates escrevia uma carta a um outro senhor de seu nome Paul Allen e falava-lhe numa "parceria informal" chamada "Micro-soft". Já imaginaram o que seria se a coisa fosse gizada desde o início para ser uma parceria séria e formal?

Regular as reguladoras

O Jornal de Negócios intitula hoje em primeira página que as reguladoras declararam guerra entre si. Refere-se, em particular à Autoridade da Concorrência e Anacom - que significa, salvo erro, Autoridade Nacional das Comunicações - e às suas posições conflituosas no caso da OPA da Sonae sobre a PT. Com todo este frenesim, Empreender só estranha que o Governo não tenha ainda decidido criar uma autoridade reguladora das reguladoras. Poder-se-ía chamar ARR, por exemplo. Dir-se-ía "arre"... porra!

2006-11-28

Chocolate spillovers


"When do university-based knowledge spillovers influence the growth of NTBFs?" da autoria de Piva Evila, Massimo G. Colombo e Diego D’adda foi o vencedor do Annual Best Paper Award of the Gate2Growth Academic Network on Entrepreneurship, Finance and Innovation, prémio entregue no decorrer da vigésima edição da RENT, uma prestigiada conferência de empreendedorismo que decorreu em Bruxelas na passada semana. O artigo patrocinado por Empreender não venceu o prémio mas mesmo assim não deixa de ser lisonjeiro ter sido escolhido para finalista, em conjunto com outros sete artigos, entre os 255 candidatos. De Bruxelas veio uma caixa destas, entretanto devorada.

Leite demasiado gordo

"A Autoridade da Concorrência (AdC) decidiu levar a cabo uma investigação aprofundada à operação de aquisição da Leche Celta por parte da Lactogal. A primeira análise da operação revelou-se inconclusiva e a AdC acredita que a realizar-se esta pode pôr em causa a concorrência no mercado nacional. Como pode ler-se no comunicado da AdC, a «operação é susceptível, à luz dos elementos recolhidos, de criar ou reforçar uma posição dominante da qual possam resultar entraves significativos à concorrência efectiva nos mercados relevantes da produção e comercialização do leite pasteurizado e UHT e respectivos efeitos no mercado conexo da recolha». A compra dos activos da Leche Celta no mercado nacional e espanhol vão permitir à Lactogal liderar o mercado ibérico dos leites líquidos, com vendas anuais avaliadas em mil milhões de euros. Em Portugal, a quota de mercado da Lactogal ronda os 60%, e apresentou 683,5 milhões de euros de facturação no ano passado. As actividades da Leche Celta eram controladas pela norte-americana Dean Foods desde 2000. A empresa tem cinco fábricas de recolha e transformação de leite, uma em Portugal e as restantes em Espanha. No país vizinho, a empresa produz cerca de 350 milhões de leite e em Portugal transforma entre 120 a 150 milhões de litros de leite por ano. Em 2005, a Leche Celta registou um volume de negócios de 295 milhões de euros."

Hipersuper, 23 de Novembro de 2006

2006-11-27

Metro e meio

Teve graça a entrada duma viatura conduzida por um casal de idosos pela linha do Metro do Porto adentro. Mas há outras entradas pelo Metro do Porto adentro que não são menos risíveis. Soube-se que neste metro exitem administradores não executivos que por comparecerem a reuniões quinzenais e a algumas cerimónias de representação auferem receitas equivalentes a 12 salários mínimos. Mais cartão de crédito, evidentemente, no valor de 1250 euros por mês. Há já muitos anos que se dizia que os de Lisboa tinham o metro e os do Porto tinham-na de metro e meio. Viu-se agora.

Ensino superior e futuro

De acordo com a RTP, quando daqui a menos de duas horas se iniciar o Prós e Contras com o tema "O Futuro do Ensino Superior", Fatinha Campos Ferreira vai colocar no ar as seguintes questões:
  • Quem manda no Ensino Superior?
  • Quem o avalia?
  • Como é acreditado?
  • O que significa hoje a autonomia das Universidades?
  • O que pensam os professores e os alunos?
  • Que futuro para o Ensino Superior em Portugal?

Não retirando validade a estas questões, uma outra bem mais relevante e prévia deveria ser colocada: o ensino superior tem futuro em Portugal? Entre os convidados estarão os suspeitos do costume.

Curiosamente, o debate decorre no mesmo dia em que duas das principais escolas da Universidade Técnica de Lisboa - o Instituto Superior Técnico e o Instituto Superior de Economia e Gestão -, duas das instituições que mais capacidade deverão ter em gerar receitas próprias, vieram reconhecer não possuir capacidade orçamental para pagar o 13.º mês. Pelos vistos, nestas escolas o futuro é já ao virar da esquina.

Angélico

Que me recorde neste momento, até ao final do ano já tinha não sei quantos artigos para rever, duas conferências com artigo, duas outras comunicações em fóruns com empresários, vários investigadores a acompanhar, uma candidatura a doutoramento a analisar, uma tese de doutoramento para ler e outra a caminho. Como se não bastasse, o Simão trás hoje do colégio mais um compromisso: "solicitamos que em vossas casas construam um Anjo a três dimensões com materiais à vossa escolha, não podendo ultrapassar a altura de 15 cm, que deverá ser entregue até ao dia 4 de Dezembro, ficando em exposição no polivalente". Garanto que estou mais arrepiado com este Anjo do que com tudo o resto. É caso para dizer que o final do ano prometia ser diabólico e subitamente ficou também angélico.

Episódios da vida académica 10

Chegou finalmente o microgravador Olympus. Valeria a pena explicar as aventuras e desventuras que a subsidiária portuguesa da Olympus e um dos seus retalhistas me fizeram passar para adquirir este gravador e porque acabei por comprá-lo na FNAC. Mas talvez o faça noutro dia porque hoje quero escrever sobre microgravadores.

O novo microgravador vai ser utilizado sobretudo na recolha de dados através de entrevista, mas incorpora também um leitor de mp3 que deverá cumprir outras funções. Foi um gravador deveras caro. Caríssimo. O disparate do preço fez-me hesitar na aquisição. Ainda perguntei ao João Areias – investigador de doutoramento que oriento e me sugeriu este WS-320 – se os 100 euros de um leitor mp3 da Creative ou da Sony com função de gravação não seriam um investimento suficiente. Não fiquei totalmente convencido, mas parece que a funcionalidade de gravação destes leitores de mp3 é bem menor.

Depois – pormenor que na hora da verdade é capaz de ter justificado o investimento – o Olympus "parte-se" a meio e fica com ligação directa a uma porta USB, facilitando a transferência de dados para qualquer computador. Poderá, desta forma, facilitar a sua utilização por vários investigadores sem necessidade de cada um deles instalar "software". Isto acabou por ser um dos motivos que justificou a compra. Além disso, a verdade seja dita, o gravador deve ser deveras bonito. Digo que deve ser deveras bonito porque ainda não o vi fora da embalagem. Passei-o para o João que já o deve ter estreado com uma entrevista.

Da minha parte ficarei extremamente satisfeito se este Olympus substituir plenamente o meu outro gravador. O meu outro gravador foi adquirido há quase 15 anos aos indianos da Praça de Espanha, em Lisboa. Na altura não me passava pela cabeça vir para a academia fazer entrevistas e, portanto, comprei-o com outros fins. No meu imaginário, foi o agente Mulder da série The X-Files que, consciente ou inconcientemente, me influenciou. Fascinava-me o facto de poder explicitar os pensamentos num registo breve e facilmente acessível. Foi por isso que comprei um gravador para gerir os meus "x-files". Ao contrário de Mulder, não pretendia registar pensamentos sobre fenómenos paranormais.

Nessa altura já trabalhava numa grande consultora e foi aí que pela primeira vez percebi por experiência própria que os gestores são muito reticentes em traduzir para palavras escritas as suas ideias. São normalmente avessos à escrita e preferem a acção ou o discurso da acção. Daí alguma da popularidade destes microgravadores. Mas, como digo, nunca senti necessidade de registar fenómenos paranormais, ainda que depois de vir trabalhar para uma universidade não faltem fenómenos desses para registar.

O meu gravador antigo utiliza microcassetes de fita magnética. Nunca avariou. Foi com ele que recolhi alguns dados para o meu mestrado e doutoramento, já lá vão também alguns anos. Desde então tenho-o emprestado a vários investigadores, tendo contribuído para outros dois mestrados entretanto concluídos com sucesso. No total, esse gravador – de que nem sequer me recordo da marca, se é que tem alguma – fez já três mestrados e um doutoramento. Se o Olympus deixar uma marca idêntica a esta, dou-me por muito satisfeito.

2006-11-26

Crafting and Executing Strategy: Text and Readings, 15th Edition
Arthur A. Jr. Thompson, A. J. Strickland III, John E Gamble
McGraw-Hill, Boston, MA, 2007

"Presents the latest research findings from the literature and cutting-edge strategic practices of companies have been incorporated to keep step with both theory and practice. [...] This paperback version of the text does not contain any cases, but it does include 21 readings from noted business writers that support the concepts in the main text portion."

2006-11-25

Friburgo recebe EIBA

Está já disponível o programa da conferência deste ano da European International Business Academy que decorrerá em Friburgo, Suiça, entre 7 e 9 de Dezembro próximo. O tema que dá mote à conferência são os factores de base nacional e regional da competitividade e localização dos negócios. A propósito de localização fique-se sabendo que a cidade foi fundada em 1157 e, de acordo com a informação turística pesquisada por Empreender, possui um dos maiores legados da arquitectura medieval europeia. Nestas imagens podem ver-se duas perspectivas da Catedral de São Nicolau, uma das atracções da cidade, e uma vista da cidade velha atravessada pelo rio Sarine.


O maior português de sempre

Há textos que entram e se alojam dentro de nós. Uns com estadias curtas, outros mais longas. Um desses textos que acabo de reler saiu no último número do Jornal de Barcelos (22 de Novembro de 2006, p. 24), um semanário parceiro de Empreender. Já procurei na edição digital do jornal se seria possível registar a ligação para os leitores de Empreender, mas, com muita pena minha, a crónica de Luís Manuel Cunha intitulada "O (meu) maior português de sempre" não aparece lá. Se tiver oportunidade de a ler, não perca a qualidade e o conteúdo daquelas linhas. Nós próprios subscrevemos a escolha do maior português de sempre ali efectuada. Chama-se Frascisco da Costa, "foi prior de Trancoso e condenado em 1487, então com 62 anos".

2006-11-24

Choradeira

"A comoção que já estava instalada sobre o corte de verbas no Orçamento de Estado, mais os resultados ontem divulgados da avaliação do Ensino Superior, apenas confirmam aquilo que todos suspeitavam: as universidades são um assunto demasiado importante para serem confiados ao governo dos que por lá andam.
[...]
Mas quando pensávamos que, ali sim, os projectos e os objectivos eram definidos de acordo com os recursos disponíveis, eis que assistimos a uma choradeira sem fim, de reitores a ilustres professores, sobre as verbas que nem sequer cobrem os salários.
Até pode ser. Mas, repito, de académicos, de homens que fazem do método a base da sua profissão, exige-se muito mais do que a reivindicação. E, até hoje, não se vislumbrou o mínimo esforço para colocar a discussão no único patamar em que é admissível que ela seja realizada.
[...]
Até por pudor, deveriam os responsáveis pela gestão das universidades portuguesas evitar pedir mais dinheiro sem exigir resultados.
Mas tal não acontece. E não acontecerá, por livre e espontânea vontade dos próprios, porque é o governo da universidade que está em xeque. Sob a capa da autonomia financeira, o país perdeu a noção das capacidades que possui nas suas escolas.
[...]
Quem comparar a universidade com a realidade das nossas empresas, não tem a certeza onde é pior a situação. Mas duas coisas são certas. Uma é que não existe uma empresa em Portugal com tão grande número de pessoas qualificadas como as universidades. Quantas contam com meio milhar de funcionários licenciados nos seus quadros? Uma? Duas?
A outra verdade inquestionável é sobre o destino certo das medíocres e incompetentes: a empresa abre falência, a universidade pede reforço de verbas."


Figueiredo, Sérgio (2006). "Editorial: Ricas universidades", Jornal de Negócios (23 de Novembro): 3

Contradição entre discurso e acção

A propósito de mais um relatório sobre o ensino superior em Portugal, o ministro da tutela veio esta semana prestar declarações públicas sobre o sector. Ouvimo-lo reconhecer que as instituições públicas de ensino superior terão em 2007, em média, menos seis por cento de orçamento. Em contrapartida, o orçamento para a "ciência" - "projectos, bolsas, etc,", assim mesmo identificada pelo ministro - crescerá acima dos 50 por cento. De uma forma muito simples, argumenta o ministro, pretende-se que existam candidaturas das instituições, tornando o finaciamento mais "competitivo". Tudo normal, aparentemente.

No entanto, existe hoje uma contradição deveras chocante entre as boas intenções dos discursos governamentais e a forma como essa intenções são traduzidas em acções. No caso do ensino superior e ciência, essa contradição dá-se precisamente entre os argumentos a favor do financiamento competitivo de estímulo à meritocracia e a praxis política traduzida, por exemplo, no "negócio" em torno das parcerias com o MIT e quejandos. O ministro reconhece claramente que existe uma opção política governamental na escolha das áreas científicas prioritárias mas, quando se trata de explicar a escolha dumas instituições em detrimento de outras para se envolverem nos generosos projectos em curso, então descarta-se da responsabilidade da escolha e trata de dizer que foram as sumidades do MIT a efectuar as escolhas dentro de critérios estritamente científicos. De acordo com o ministro, a escolha foi tão pensada e ajuizada que, se dúvidas subsistem, fique-se sabendo que estiveram 50 pessoas do MIT durante mais de seis meses em Portugal a fazer esta avaliação!

Empreender não concorda com esta abordagem mas dá o benefíco da dúvida ao Governo, exigindo, contudo, que este assuma todas as responsabilidades e implicações daí resultantes. E questiona-se: então não era suposto haverem candidaturas competitivas ao financiamento? Porque não foi seguida esta abordagem na selecção das instituições de ensino a participar nas parcerias internacionais desenhadas pelo Governo? Não estará o Governo a contradizer-se entre o que apregoa e aquilo que pratica?

Trata-se, na essência, de um comportamento idêntico ao que mencionámos recentemente a propósito da portagem em auto-estradas como a A28. Isto é, em circunstâncias normais as instituições de ensino superior teriam que adaptar-se a uma nova realidade e o seu discurso critíco não teria razão de ser. Mas é precisamente o Governo, ao exigir uma nova postura das instituições sem ele próprio dar o exemplo e, mais grave ainda, contradizendo o discurso com a acção, que acaba por dar razão às critícas que lhe são feitas.

2006-11-23

Cooperação e rivalidade em I&D

A revista Economics of Innovation and New Technology (Volume 15, Número 6) de Setembro passado publica um artigo sugestivamente intitulado "Cooperation or competition in R&D when innovation and absorption are costly". O seu autor, Lars Wiethaus, analisa "cost-reducing R&D investments by firms that behave non-cooperatively or cooperatively. Firms face a trade-off between allocating their R&D investments to innovate or to imitate (absorb). We find that the non-cooperative behavior not only induces more imitation (absorption) but also, for the most part, more innovation investments. Only the cooperative behavior, however, ensures that R&D investments are allocated efficiently to innovation and to imitation (absorption) in the sense that any given amount of industry-wide cost reduction is obtained for the minimum overall R&D costs."O artigo centra-se num tema relevante, o da análise e compreensão dos mecanismos, estruturas e racionalidade da adopção de comportamentos que são simultaneamente cooperativos e de rivalidade. Neste caso, está em causa um contexto - ambientes em que o conhecimento, tecnologias e aprendizagem são relevantes - que favorece e, em certa medida, incentiva fortemente a conciliação de comportamentos aparentemente contrários, mas que se complementam.

Empreender com RENT em Bruxelas


A RENT XX - Research in Entrepreneurship and Small Business está a decorrer neste hotel em Bruxelas. Empreender patrocina o artigo "The role of inward foreign direct investment on domestic entrepreneurship" que a seguir se resume:

"This article investigates whether foreign firms operating in Portugal had a positive impact on domestic entrepreneurial activity measured by the net creation of firms. Using firm-level panel data for manufacturing and service industries over the period 1986 to 2000, we test whether the impact of foreign firms on domestic firms entry depends on the number and size of previous foreign entrants. There are two main findings of particular importance. First, the estimation results do not confirm that there is a u-shaped relationship between foreign presence and the number of domestic start-ups. We found empirical support for this relationship only in the case of high-tech industries and large firms. Second, the impact of a first foreign investment is, in general, positive but the marginal impact of additional investments appears to be negative. Overall, these results cast some doubt on the influence of foreign firms in assisting domestic entrepreneurial activity."
A apresentação e discussão do artigo decorre mais logo, às 16:15 horas, numa sala idêntica a esta aqui em baixo. A conferência termina amanhã.

2006-11-22

A28 sem SCUT

Em circunstâncias normais, a associação dos utentes da A28 que veio hoje publicamente manifestar-se nunca teria razão em reclamar a não cobrança de portagens ao utilizador naquela auto-estrada. Mas subitamente, a política errónea e equívoca do Governo acaba por dar-lhe razão. Dá-lhe razão porque só quem não conhece a A28 é que pode pensar que existe uma alternativa a esta auto-estrada. De facto existe; é uma alternativa tão válida quanto a EN14 é alternativa à A3, a EN125 é alternativa à A22 ou a EN1 é alternativa à A1. Bastaria ponderar este critério que o Governo muito gosta de propagandear para se concluir que o Governo não tem razão. Não tem razão porque aplicando este seu critério, auto-estradas como estas não deveriam ter portagens. O equívoco governamental destes últimos anos acaba, desta forma, por dar argumentos válidos aos utentes da A28 e de muitas outras auto-estradas por esse país fora.

Se a política do Governo era errada ao excluir várias auto-estradas da cobrança de portagens ao utilizador, mais errada se está a tornar ao decidir cobrar portagens de forma arbitrária nuns casos em detrimento de outros. Se, como o Governo argumenta, existem estudos sólidos que sustentam a sua decisão, deve então torná-los públicos e sujeitar-se ao escrutíneo dos cidadãos e de outros estudiosos que não os amigos dos governantes que encomendaram esses estudos. Aqui em Empreender dá-se um desconto a este tipo de estudos. Ser-nos-ía suficiente compreender os argumentos políticos que estão por detrás de decisões destas. Decisões como, por exemplo, a manutenção de uma taxa de IVA altamente bonificada nas portagens em duas das pontes sobre o rio Tejo que, pura e simplesmente, a própria Comissão Europeia, considera ilegal.

22 de Novembro

Acabo de reparar que o dia de hoje, 22 de Novembro, foi um dia importante na história. Nesta mesma data Kennedy foi assassinado em 1963; Thatcher resignou como Primeira-Ministra do Reino Unido em 1990; e Merkel tornou-se Chancellor da Alemanha há precisamente um ano. E este senhor aqui em baixo; o que andaria ele a fazer em 22 de Novembro de 1917, por exemplo?


2006-11-21

Dinâmica empreendedora em contexto local

O International Entrepreneurship and Management Journal (Volume 2, Number 3, September 2006) inclui o artigo "Spatial co-localisation of firms and entrepreneurial dynamics: The combinatory system view" da autoria de Piero Mella:

"In this conceptual paper, I propose an interpretation of business dynamics in terms of the spatial co-localisation of firms—considered as an intelligent cognitive system—in a circumscribed area in order to form clusters of various types. I interpret clustering by adopting the methodology of multi-agent combinatory systems: that is, systems formed by collectivities of agents (firms) in which an internal feedback recombines the micro behaviours of the agents (localisation) in order to produce a macro effect (cluster) which, in turn, modifies the attractiveness of the area and conditions the subsequent localisations. I also present the idea that if a cluster has fitness advantages for new firms, then usually new entrepreneurs are formed within it and the cluster widens, due to the endogenous genesis of new firms."

2006-11-20

A família e a empresa

O Journal of Management Studies lançou um "call for papers" para um número especial dedicado à relação entre família e empresa, no original "The Family and Enterprise: Unpacking the Connections". O prazo de envio de artigos é 1 de Junho de 2007 e os editores são William Schulze (University of Utah) e Eric Gedajlovic (University of Connecticut). Eis as questões suscitadas para investigação:

  • What theories explain the types of organizational structures, business and corporate strategies and resource acquisition practices commonly utilized by family businesses?
  • How does the coupling of ownership and control in the hands of family members influence a firm's strategic objectives and behavior?
  • What explains the ability of family businesses to survive and thrive within and across diverse product markets and institutional contexts?
  • How does the reciprocal influence of family and business dynamics affect a firm's ability to develop and sustain rent-producing capabilities?
  • What are the competitive advantages and disadvantages of family businesses relative to other forms of business enterprise?

Episódios da vida académica 9

Há dias, pela primeira hora da manhã, recebi um telefonema da Guarda. Do outro lado da linha estava o director do jornal Nova Guarda, a quem Empreender propôs uma parceria. O motivo do telefonema de António Pereira de Andrade Pissarra era dar-me conta da intenção do seu jornal em aceitar a proposta que eu lhe tinha feito. A conversa decorreu com cordialidade. Fico a saber que António Pissarra é, além de director de jornal, director de um dos departamentos do Instituto Politécnico da Guarda. Ou seja, além de partilharmos o gosto pelas letras, somos colegas e conhecemos colegas comuns. Rapidamente a distância até à Guarda - essa cidade, salvo erro, dos cinco Fs - fica mais próxima. Dá-me o e-mail que se inicia com o acrónimo do seu nome em ordem inversa, isto é, PAPA. Brinco com a situação e pergunto-lhe se também exerce a função! Depois penso para comigo que não é todos os dias que temos um papa do outro lado da linha.

Aguçasse-me o apetite e peço-lhe que compreenda as circunstâncias mas que não poderia desperdiçar a oportunidade de ter à minha frente o director de um jornal da Guarda que ainda por cima é director de um departamento no politécnico local. E pergunto-lhe se é verdade o boato que dá conta da integração do Instituto Politécnico da Guarda na Universidade da Beira Interior. Dá-me um sinal negativo e percebo que teríamos conversa para toda a manhã. Pensando na origem do boato, rapidamente compreendo que em Portugal sempre procuramos o exemplo dos outros para legitimar os nossos próprios desejos e decisões, mesmo que o que se apregoa acerca dos outros não tenha fundo de verdade. Ambos concordámos que de boas intenções está o inferno cheio.

Trocámos ainda umas impressões sobre Bolonha, Braga e a Guarda, três cidades que afinal de contas podem ter um denominador comum. Terminada a conversa e depois dumas pesquisas e da leitura de um editorial do meu parceiro da boa Guarda, fico satisfeito por esta parceria se ter estabelecido.

2006-11-19

Conhecimento e cooperação internacional

"Estudo sobre gestão do conhecimento no ensino superior público em Portugal" de que sou co-autor em conjunto com Jorge Simões e Miguel Gonçalves é o título de um dos artigos que será apresentado na conferência Conhecimento e Cooperação Internacional que terá lugar em Lisboa. A apresentação está agendada para 6 de Dezembro às 16:45, mas a conferência durará todo o dia 6 e manhã do dia 7. A organização é do Instituto Nacional de Administração.

Estratégia em rede

A série "Advances in Strategic Management" vai editar em 2008 o seu volume 25 dedicado à estratégia em rede. "Network Strategy" será organizado por Joel A.C. Baum e Tim J. Rowley e destacará três tópicos que interessa identificar, desde logo porque se tratam de tópicos relevantes de investigação. São áreas em que continua a haver imensa matéria carente de pesquisa.

"Network Entrepreneurship – Awareness of the structural advantages available to occupants of certain network positions should inspire firms and their managers to seek these advantages. Several perspectives, including structural hole and resource dependence theories, suggest that firms and managers take actions to influence the structure of relationships around them, constructing network barriers to entry that new entrants must overcome. However, there is limited understanding of the extent to which individuals, groups, and firms understand their networks sufficiently well to manipulate the network structure and/or their position within it strategically.

Endogeneity – Although the idea that structural advantages are available to occupants of certain network positions is widely accepted, this idea is based on cross-sectional studies. Is it possible that some advantages precede, rather than follow, network positions? Assumptions of causal order require further theoretical and empirical consideration.

Network Dynamics – Although the sources of network stability are well understood, how networks emerge and change over time is not. Research suggests that interfirm networks commonly exhibit ‘small world’ properties, but is virtually silent regarding why they are patterned in this way. Understanding both exogenous and endogenous drivers of network change is vital to improving our understanding of how networks emerge and take shape."

2006-11-18

Política e corrupção nos negócios internacionais

A política, a corrupção e a responsabilidade social da empresa - qual santíssima trindade - estão em destaque no Journal of International Business Studies de Novembro de 2006 (Volume 37, Número 6). Os editores convidados para organizar o tema foram Lorraine Eden, Amy Hillman, Peter Rodriguez e Donald Siegel. Todos os artigos parecem interessantes mas há um que só pelo título - "Who cares about corruption?", de Alvaro Cuervo-Cazurra - já merece leitura.

O artigo em causa analisa o impacto da corrupção no investimento directo estrangeiro (IDE) e reclama que a corrupção provoca não só uma redução do IDE mas também uma alteração na composição dos países de origem do investimento. Mais interessante ainda, o autor diz que os países da OCDE que assinaram uma convenção sobre a matéria recebem menos IDE.

2006-11-17

Descascar a banana

Com cinco anos, o pimpolho regressa do colégio para casa com a sua primeira anedota.
- Pai, sabes porque a banana foi ao médico?
- Não, não sei filho. Diz lá.
- Não estava a descascar bem.
E foi esta a primeira anedota trazida do colégio pelo Simão. Fico pensativo; se com esta idade conta anedotas sobre as dificuldades da banana em se descascar, de que fruta tratarão as anedotas que me contará daqui a alguns anos?!

Investimento estrangeiro e criação de empresas

Está já disponível o programa da RENT XX – Research in Entrepreneurship and Small Business, conferência de empreendedorismo que se realizará em Bruxelas na próxima semana. Como foi já referido numa entrada passada de Empreender, o artigo intitulado "The role of inward foreign direct investment on domestic entrepreneurship" da autoria de Natália Barbosa e Vasco Eiriz foi escolhido para a "short list" dos melhores artigos. A RENT XX é para muitos investigadores a mais prestigiada conferência europeia de empreendedorismo. Trata-se duma conferência organizada pelo European Institute for Advanced Studies in Management e pelo European Council for Small Business and Entrepreneurship.

A conferência recebeu a submissão de 255 artigos. No processo de selecção, de entre estes 255 artigos foram seleccionados 139 artigos para serem apresentados na conferência. Finalmente, de entre estes 139 artigos, a "short list" com os artigos finalistas ao prémio Annual Best Paper Award of the Gate2Growth Academic Network on Entrepreneurship, Finance and Innovation, inclui oito artigos.

O artigo "The role of inward foreign direct investment on domestic entrepreneurship" avalia o impacto das empresas estrangeiras instaladas em Portugal sobre a actividade empreendedora no país medida pela criação líquida de empresas. Os resultados indicam que numa fase inicial a presença de empresas estrangeiras tende a promover a criação de empresas de base nacional. Contudo, à medida que o peso das empresas estrangeiras na estrutura sectorial aumenta, aquele efeito positivo desaparece, levando mesmo à saída de empresas de base nacional em número superior ao das novas empresas criadas.

2006-11-16

A minha Brisa

Andam por aí umas empresas e corporações que são deveras arrogantes. Recebi carta duma dessas corporações. Chama-se Via Verde, S. A. e escreveu-me uma longa missiva por causa do meu identificador de portagens. Às tantas, como quem está irritado comigo decidiu solicitar-me "que no prazo de 8 dias proceda à entrega do identificador acima referenciado". Assim, sem mais; como se eu tivesse tempo de procurar uma das suas "lojas", "postos" ou "centros", qualquer um deles localizado a mais de 30 quilómetros da minha cidade, no prazo de oito dias. É já a seguir…

Depois, num misto entre me tratarem por V. Ex.ª e me intimidarem, dizem ainda que "enquanto não proceder à verificação supra mencionada, deverá abster-se de usar a Via Verde". Ainda por cima eu, que nem na Quaresma me abstenho! A arrogância é tanta que as cartas nunca chegam com menos de três semanas sobre a data de emissão. E tudo por causa de algo que, aposto, é problema deles, não meu.

Muito simplificadamente, o meu identificador está um pouco como o Sporting. Tem dias. Nuns dias joga de verde e factura; noutros usa amarelo e perde pontos. A diferença entre o Sporting e a Via Verde é que esta arranja sempre forma de ir buscar os pontos. Desconfio, no entanto, que sei porque me escrevem. Estranhamente, numa das novas "brisinhas do norte" que utilizo pontualmente, o identificador, vá-se lá saber porquê, em alguns dias dá verde num dos sentidos e amarelo no sentido contrário. Acreditem que já desconfiei que este comportamento tem a ver com a posição do sol pois aquela auto-estrada é no sentido nascente-poente e nos dias em que isto aconteceu estava um sol encadiante mesmo de frente! Estou mesmo convencido que o problema não é do meu identificador porque ele tem sido testado por muitas portagens deste país e, ao contrário do sucedido naquela auto-estrada, dá sempre verde.

Mas como me garantem que corporações como esta são tecnologicamente um potentado de inovação e tecnologia (diria até que são quase tão inovadoras como indelicadas), então o problema não deve ser do sol. Talvez seja da Brisa.


Diamante de Porter revisitado

O modelo da vantagem competitiva das nações, também popularizado como "diamante de Porter", é revisitado por um artigo saído recentemente na Strategic Change (Volume 15, Número 6 , pp. 283 - 284) com um longo título: "Competitive advantage of a nation in the global arena: a quantitative advancement to Porter's diamond applied to the UK, USA and BRIC nations". Os autores são Howard B. J. Stone e Ashok Ranchhod, ambos da Southampton Business School, Reino Unido, e alcançam alguma originalidade ao aplicar o modelo aos BRIC, que é como quem diz Brasil, Russia, India e China. O artigo não trás coisas conceptualmente originais mas vale pela aplicação de um modelo deveras popular e influente a um conjunto de nações que estão a transformar a paisagem competitiva mundial. Só por isso já merece ser lido.
"Improvements in technology, communication and infrastructure are driving aspects of globalization to new heights. In the light of this, there are interesting debates on the growth of the BRIC nations (Brazil, Russia, India and China) relative to the competitive advantage of the main OECD nations. This paper utilizes the framework within Porter's diamond of competitive advantage and develops a quantitative approach to determine the competitive advantage of a nation. This approach has so far eluded most contemporary discussions surrounding Porter's diamond. This paper attempts to redress this balance by providing a more robust framework for assessing the relative global competitive advantage of a nation. Applying this approach to the BRIC nations, the UK and the USA has yielded some interesting results indicating that the UK is currently the most competitive nation and that China will soon position itself as a truly competitive one."

A propósito da aplicação do modelo, valeria também a pena actualizar o estudo publicado em 1994 pela Monitor, empresa de consultoria de Porter, sobre a competitividade de Portugal.

2006-11-15

Episódios da vida académica 8

Diariamente chegam por correio electrónico imensas mensagens. Nunca tinha recebido uma mensagem como a que transcrevo a seguir. Apesar de hesitar muito no momento em que escrevo estas linhas, entendi finalmente colocá-las no ar porque esta mensagem traduz, na verdade, um dos episódios que mais me marcou no tempo que tenho de universidade. A mensagem diz: "Boa tarde, eu sou aluna do 4º ano de Gestao. por motivos de saude, fui internada a 27 de junho com Leucemia, nao me foi possivel realizar os exames de Estratégia e Competitividade tanto na época normal como na época de recurso. Inscrevi-me para realizar o exame da epoca especial, no dia 3, uma vez que passei uma semana em casa. no entanto o exame foi adiado e neste momento ja me encontro hospitalizada para fazer novamente quimioterapia. O mais provavel é na nova data do exame ainda estar no IPO e caso isto aconteça gostaria de pedir para fazer o exame numa outra data, se possivel. Agradeço desde ja a disponibiidade e atençao e apelo à compreensao para com a minha situaçao. Sei que nao estou nas melhores condiçoes para realizar exames, mas o facto de voltar aos poucos à vida normal ajuda-me a sentir melhor e encarar melhor a doença. Fico à espera de uma resposta o quanto antes, atenciosamente". Depois duma troca de e-mails e telefonemas o exame acabou por ser realizado no meu próprio gabinete numa das semanas de intervalo entre sessões de quimioterapia. É muito difícil a um professor confrontar-se perante uma situação destas numa aluna de vinte e poucos anos. Recordo-me dela através da foto da sua ficha de identificação, mas não foi nada fácil confrontar-me com a sua transfiguração. Por mais do que uma vez percebi da mensagem e das suas palavras que era importante ter uma vida normal para o seu bem estar psicológico. Por isso esforcei-me por me relacionar também normalmente com ela. Julgo que ela gostaria de ser avaliada nas mesmas condições que os demais colegas e assim o fiz. Após concluido o exame, no momento da despedida, com a garganta presa, o único que consegui dizer-lhe é que lhe desejava o maior sucesso na conclusão do seu curso e em tudo o resto que tem pela frente.

Diploma em competências

No meu tempo, no 10.º ano escolhia-se uma área de estudo - ciências naturais, tecnologias, ciências socio-económicas, artes, ou letras - e depois tinha-se que estudar mais três anos para concluir o 12.º ano. A partir do próximo ano, parece que para concluir o 12.º ano basta ter mais de 18 anos e três anos de experiência. Nestas condições uma pessoa pode dirigir-se a umas coisas chamadas "centros de reconhecimento, validação e certificação de competências" e se mostrar ser habilidoso e competente dão-lhe o 12.º ano. Não faltará escolha porque o Governo ambiciona criar 270 centros destes (mesmo assim, muito menos do que o número de escolas que tem encerrado). Nesta matéria, a ambição é tanta que até 2010 pretende que 650 mil adultos passem por estes centros para obter um diploma do ensino básico ou do ensino secundário. Trata-se portanto duma receita que já é aplicada há alguns anos no ensino básico e que agora é estendida ao 12.º ano. A continuar assim, não demorará muito que chegue também ao ensino superior. Ficaremos então todos muito competentes e contentes. Venceremos a batalha da competitividade.

2006-11-14

Capital intelectual em conferência

Eis uma conferência sobre capital intelectual subordinada ao tema Innovation and Corporate Social Responsibility: European and Asian Perspectives, que se apresenta nos seguintes termos: "A conferência contará com a participação de investigadores portugueses e internacionais, representantes da Agenda de Lisboa e do Plano Tecnológico, e incluirá ainda o testemunho de duas empresas, a BIAL e MICROPLÁSTICOS, que representam exemplos de sucesso e de excelentes práticas de responsabilidade social." Ana Paula Faria, professora que passará a colaborar com a coluna Connectis de Empreender, é co-responsável pela organização.

O Pai Natal já anda por aí

Lá como cá, o Pai Natal dos tempos modernos devora tudo: "Ainda falta mais de um mês para o Natal e as campanhas natalícias já começam a saturar os consumidores. Pelo menos é o que está a acontecer no Reino Unido, onde a Advertising Standards Authority (ASA) tem vindo a receber inúmeras queixas que reclamam pelo facto das campanhas natalícias começarem demasiado cedo e que, algumas dessas acções, veiculam mesmo a inexistência do Pai Natal." (Meios & Publicidade). Lendo bem a notícia, Empreender assinala a expressão "pelo menos é o que está a acontecer no Reino Unido" e acentua o "pelo menos". Para bom entendedor, é suficiente. Um bom exemplo deste fenómeno é o caso do canal de televisão para crianças chamado Nicklodeon, cujo acesso foi tornado livre durante Novembro e Dezembro. Porque será?

Solidariedade com Simão

Empreender solidariza-se com uma recolha de fundos a favor do Simão, uma criança de 16 meses. A história do Simão apareceu já em alguns jornais, incluindo o Correio do Minho e o Jornal de Notícias. De acordo com o Corrreio do Minho, "a curta vida de Simão não tem sido fácil. Com 16 meses, sofre de paralisia e irritabilidade cerebral e de um tipo raro de epilepsia conhecido como Síndroma de West. A única esperança para melhorar a sua qualidade de vida é um tratamento em Cuba" (para ler a história completa entre em www.correiodominho.com, aceda ao menu Braga e pesquise o dia 7 de Novembro; a notícia intitula-se "Mãe apela à solidariedade para tratar filho em Cuba"). Empreender já fez uma transferência para o NIB 0036 0205 99100037220 45. Faça também a sua.

Cooperação em I&D entre universidade e indústria

Amanhã à tarde, pelas 14.30, no Auditório da Escola de Ciências da Universidade do Minho, Campus de Gualtar, em Braga, será apresentada uma comunicação sugestivamente intitulada "How to Manage Strategic Industry-University Research Cooperation on a World-Wide Scale". O autor é Ludo Kleitjens, Professor Honorário da Ruhr-Universitat Bochum, Alemanha. De acordo com o resumo da comunicação, o autor vai debruçar-se sobre vários aspectos relacionados com o tema. Nomeadamente identificará os critérios seguidos pela indústria para escolher parceiros na universidade e as formas de cooperação indústria-universidade. Relativamente aos critérios, serão identificados a reputação dos grupos de investigação, relações prévias já existentes, custos e desempenho, possibilidade de partilha de riscos, e propriedade de patentes. Quanto às formas de cooperação vão ser mencionadas as doações feitas pela indústria, investigação co-financiada por agências nacionais e internacionais, projectos de formação de estudantes, projectos de pós-doutoramento e contratos de investigação. Empreender deverá destacar um enviado ao local que, caso encontre motivos de interesse, voltará ao assunto.

2006-11-13

Reformas na Universidade de Oxford

Olha que giro, a propósito de financiamento no ensino superior, um dos temas hoje em destaque: "Oxford University is considering a major overhaul of its internal funding methods, which would see departments and colleges "earn" money in proportion to their contribution to teaching and research. A working group has been meeting since the beginning of last year to develop the system, known as the joint resource allocation method, and the university has begun holding open meetings for university staff and students.". Entretanto, as "batalhas" em Oxford continuam, prevendo-se desenvolvimentos para o dia de amanhã: "The final phase in the battle over reforms for the University of Oxford begins tomorrow when John Hood, the Vice-Chancellor, calls on dons to approve changes to a “white paper” detailing plans to hand strategic control to outsiders. After 13 years of arguing over various models to replace a 900-year-old tradition of self-governance, there is a certain weariness among the dons at Britain’s oldest university. Like all feuds, the plotting behind the scenes has been thick. But, after the most striking alternatives had been ruled out, Dr Hood’s opponents decided to push for an all-or-nothing vote in a high-risk attempt to defeat the plans." Tudo isto se passa em Oxford, mas temo que rapidamente venha a ser coisa familiar em Portugal. (Extractos publicados pelo The Times Higher Education Supplement que, por sua vez, se baseia no Guardian, Financial Times e Times).

Rearranjos no ensino superior

Vários meios de comunicação recorrem salvo erro ao Jornal de Negócios como fonte e alertam hoje para as dificuldades orçamentais no ensino superior previstas para 2007. Ao que parece, as verbas destinadas às instituições de ensino superior no Orçamento de Estado de 2007 não chegam para pagar os salários em metade das 14 universidades e cinco dos 15 institutos politécnicos públicos. Trata-se, enfim, do agravar de condições ambientais que incontornavelmente irão provocar rearranjos no sector. Neste momento, a única dúvida de Empreender é se esses rearranjos vão ter já lugar no decorrer deste ano ou, então, como tem sido norma nos últimos anos, o Estado volta a implementar medidas que permitem manter a paisagem competitiva no seu actual formato.

Comerciantes desesperados

O Correio da Manhã de hoje destaca o calor: "O calor de Inverno que se faz sentir nesta altura em todo o País está a deixar os comerciantes de vestuário à beira do desespero. As montras e os armazéns estão carregados de colecções de Outono/Inverno, mas os consumidores apenas procuram roupas leves. Os vendedores falam em quebras superiores a 40 por cento."

2006-11-12

Responsabilidade social da empresa

O episódio do serviço 118 da PT, relatado por debaixo desta cadeira, suscita um breve apontamento sobre a responsabilidade social da empresa. Chavão de gestão, a responsabilidade social da empresa apoderou-se do discurso politicamente correcto de muitas corporações, dá lugar a relatórios, gera concursos, promove discursos. Não faço ideia que tipo de iniciativas a PT desenvolve neste domínio - se é que alguma iniciativa possui - mas basta-me confrontar muitas entidades que por detrás de discursos supostamente éticos, moralizantes e responsáveis, possuem as práticas mais condenáveis. Tenho-me habituado a ver este "show" de contradição em muitos palcos e por isso não me admiraria nada que a PT também desenvolvesse alguma iniciativa neste domínio. "Muito obrigado por ter aguardado".

2006-11-11

Desregulação ou salve-se quem puder?

Empreender partilha desta preocupação que nos chegou por correio electrónico:

"Talvez ainda não se tenha apercebido do facto, mas o serviço informativo (gratuito) de números de telefone através da Internet 118.net (www.118.net) foi «descontinuado» e substituído pelo novo serviço informativo 1820 (lhttp://www.1820.pt/1820pt) . No momento em que precisa de saber o número de telefone de alguém a quem pretende ligar - e essa necessidade até pode ter carácter de urgência -, em vez de aceder directamente à informação que procura e que a PT é obrigada a fornecer gratuitamente, «tropeça» num complexo processo de registo; processo que não passa de um «convite» a que desista dessa diligência e, em alternativa, recorra ao serviço informativo por telefone - para tal lá está o lembrete: "ligue 1820 da rede fixa ou móvel". Esse serviço, contudo, não é gratuito e vai-lhe custar 0,52 € nos primeiros 30 segundos + 0,29 € por minuto durante a restante duração da chamada, tempo que, além do mais, irá ser habilmente prolongado... e prolongado... e prolongado... com música de espera e múltiplas questões pseudotécnicas e muitas, muitas, muitas interrupções... ("muito obrigado por ter aguardado")."

Depois de ler episódios desta natureza que são recorrentes em serviços como as telecomunicações, energia, transportes, auto-estradas, banca, e saúde, entre outros, a questão que se coloca é elementar: o que andam os proclamados reguladores, supervisores, auditores e quejandos a fazer? Empreender tem suspeitas.

2006-11-10

Congresso insustentável

Rodrigues dos Santos, pivot do Telejornal da RTP1, acaba de se enganar. Diz ele que começou o "congresso do PS, o partido que sustenta o Governo". Não será que ele queria dizer o contrário?

O sistema no futebol português

Empreender desfez o enigma do sistema no futebol português: uma equipa grega contrata o treinador do Beira Mar; logo de seguida, o Beira Mar contrata o treinador do Braga; e o Braga contrata o treinador da Naval. Nunca até hoje se tinha percebido a questão do sistema no futebol português porque o cerne da questão estava numa equipa … grega.

Soluções integradas em rede

Hoje está mais do que provado que uma inovação será muito melhor sucedida quando gerada e implementada em rede, no seio de um ecossistema de actores interdependentes. "Developing integrated solutions: The importance of relationships within the network", artigo de C. Windahl e N. Lakemond saído no Industrial Marketing Management acentua esse imperativo no contexto do desenvolvimento de soluções integradas. Naturalmente, como os autores constatam, nestes processos colaborativos nem tudo é um mar de rosas.

"Firms that have traditionally focused on selling products, spare parts and services face difficulties with increasing competition and eclining margins. They are therefore turning to new strategies where products and services are integrated into so-called integrated solutions. Research on the challenges this presents is sparse, but there is evidence that internal factors as well as external relationships play an important role. In this paper we investigate the relationships within the business network in order to uncover some of the complex issues related to integrated solutions, including how and to what extent these relationships facilitate or impede the development of integrated solutions. Two case studies of one more and one less successful initiative within the same firm are used to illustrate challenges and possible success factors for the development of integrated solutions in the capital goods industry. The paper identifies the following six factors as important when developing integrated solutions: the strength of the relationships between the different actors involved, the firm's position in the network, the firm's network horizon, the solution's impact on existing internal activities, the solution's impact on customers' core processes, and external determinants. It shows that inter- and intra-firm relationships can both enable and obstruct the development of integrated solutions. For the firms involved in the development of integrated solutions, it becomes crucial to manage this duality."

De piquete

Fui à janela espreitar. Os sacos do lixo continuam por recolher e a esta hora tenho por garantido que assim ficarão por mais um dia. Se a adesão à greve fosse aferida pela percentagem de sacos de lixo recolhidos aqui na rua, então a taxa de adesão seria de 100 por cento. Já ouvi um governante mencionar 11 por cento mas da porta da minha casa nem as espinhas do peixe levaram.

Ouço uma jornalista televisiva que tem uma tirada curiosa na sua peça sobre a greve. Diz ela que os sindicalistas não fazem greve, nem antes, nem durante, nem depois da greve. "Pudera, instalados vitaliciamente como muitos estão!", penso para com os meus botões. Fico convencido que já não há activistas inquietos como estes aqui em baixo.

2006-11-09

Lixo e porcaria

Por motivos conhecidos de todos – uma greve na função pública – hoje (em bom rigor, ontem à noite) não foi recolhido lixo na minha rua. Se um cidadão pode ser multado por não respeitar o horário de colocação de lixo na rua – como, aliás, já sucedeu a alguém em Braga com uma multa no valor risível de 300 euros – o que acontece quando quem tem que recolher o lixo não o recolhe? Haverá uma contra-multa, em favor do cidadão? Ou será feita alguma dedução nas respectivas taxas, pagas generosamente todos os meses? Mais paradoxal ainda, como se justifica uma greve pública numa empresa privatizada, como é o caso da empresa que recolhe lixo em Braga? Estaremos perante um caso de virtudes privadas e vícios públicos?

2006-11-08

Investir na Ásia

O que motiva as empresas finlandesas a efectuar investimentos na Ásia? Pode procurar as respostas em "Strategic motivations of Finnish FDIs in Asian countries" da autoria de Rizwan Tahir e Jorma Larimo que saiu este ano na revista Cross Cultural Management: An International Journal (Volume 13, Número 3).

Prémio da Gate2Growth Academic Network on Entrepreneurship, Finance and Innovation

A RENT XX – Research in Entrepreneurship and Small Business, para muitos considerada a mais prestigiada conferência europeia de empreendedorismo tem já o seu programa disponível. Trata-se duma conferência organizada pelo European Institute for Advanced Studies in Management e pelo European Council for Small Business and Entrepreneurship.

A conferência recebeu a submissão de 255 artigos. No processo de selecção, de entre estes 255 artigos foram seleccionados 139 artigos para serem apresentados na conferência que terá lugar entre 23 e 24 de Novembro próximo. Finalmente, de entre estes 139 artigos, a "short list" com os artigos finalistas ao prémio Annual Best Paper Award of the Gate2Growth Academic Network on Entrepreneurship, Finance and Innovation, inclui os seguintes oito artigos, um dos quais tem o patrocínio de Empreender:
  • Determinants of innovation in new firms: linking absorptive capacity to the performance of start-ups (Delmar Frédéric, Erik Wetter)
  • Early formalization : a study of entrepreneurial organizing at early stages of high technology venturing (Sölvell Ingela)
  • An assessment of the efficiency of government funding of business angel networks: a regional study (Collewaert Veroniek)
  • Venture capital and the investments of new technology based firms (Bertoni Fabio, Massimo G. Colombo)
  • When do university-based knowledge spillovers influence the growth of NTBFs? (Piva Evila, Massimo G. Colombo)
  • Student and/or entrepreneur? Managing multiple identities among emerging university student entrepreneurs (Sørensen Suna, William B. Gartner)
  • The role of inward foreign direct investment on domestic entrepreneurship (Barbosa Natalia, Vasco Eiriz)
  • Financing and growth behavior of family firms: differences between first- and next-generation-managed firms (Molly Vincent, Eddy Laveren).

2006-11-07

Episódios da vida académica 7

A julgar por esta mensagem que recebi na rede interna da minha universidade, é caso para desconfiar que os alunos vão começar (finalmente) a estudar mais atempadamente.

"Tendo a UM adequado e colocado em funcionamento já em 2006/07 várias das suas licenciaturas segundo o “modelo de Bolonha”, o Secretariado dos Conselhos de Cursos de Gualtar, respondendo a novas exigências no trabalho e aprendizagem dos alunos, reservou algumas salas dos Complexos Pedagógicos para “Salas de Estudo”. Referimo-nos, mais concretamente, às salas com numeração compreendida entre a 1312 e a 1319 do Complexo Pedagógico I, assim como à sala 3402 do Complexo Pedagógico III. Estas salas destinam-se a TODOS os alunos dos cursos que funcionam em Braga, podendo ser utilizadas quer para o estudo autónomo dos alunos, a nível individual ou de grupo, quer para aulas/sessões tutoriais dos docentes com grupos de alunos."

Trata-se, enfim, duma boa ideia. Fico, contudo, algo perplexo por verificar que existem agora "novas exigências no trabalho e aprendizagem dos alunos", como se tudo o que está a ser feito oferecesse alguma novidade de monta e não preocupasse já a generalidade dos professores mesmo antes de Bolonha estar no mapa de Portugal. Enfim, foi pena ter-se esperado por "Bolonha" para implementar coisa tão elementar.

Empreender deseja agora que não se passe nestas salas o mesmo fenómeno que se verifica por todas as bibliotecas e "espaços internet" instalados no país que é ver os postos de trabalho ocupados com meninos e meninas a navegar na internet, frequentemente em "sites" de jogos.

Laços económicos e laços familiares

A revista Enterprise and Society (Volume 7, Número 3) traz um artigo deveras curioso. "The Transformation of an Old Industrial District: Firms, Family, and Mutuality in the Zaanstreek between 1840 and 1920 " de Karel Davids retrata um "velho distrito industrial" e a forma como os laços inter-organizacionais se desfragmentaram como consequência da pressão ambiental. Com base numa explicação histórica, o autor constata como o desapertar desses laços de base económica foram subsituídos por laços de natureza familiar que conseguiram manter uma rede regional algo intacta.

"The Zaanstreek—northwest of Amsterdam, The Netherlands—has been a highly industrialized region for nearly four hundred years. For most of this period, it showed a strong sense of community and a high degree of cooperation between firms, which is usually considered to be typical for an "industrial district." However, between about 1840 and the First World War the character of this industrial district was dramatically transformed. In response to the rapidly growing integration of markets in the national and international economies since the 1840s, the Zaanstreek went through a radical change in energy base, as well as a fundamental shift in industrial structure. This essay addresses the questions of what happened to interfirm cooperation in the Zaanstreek when this fundamental transition in energy base and shift in industrial structure came about and how and to what extent entrepreneurs in the Zaan district between 1840 and 1920 managed to preserve the sense of community and interfirm cooperation that were the hallmarks of this region since the seventeenth century. It shows that the principle of mutuality eventually proved no longer strong enough to keep the actors in these institutions together. Ties between firms within the industrial district were in several respects replaced by, or subordinated to, ties between firms outside the industrial district. What kept interfirm cooperation in the district nevertheless intact for much of the period after 1920 were ties of regional family networks. The essay concludes with a few observations about the relevance to the study of industrial districts in general."

2006-11-06

Ideias, oportunidades e negócios

Todos nós temos excelentes ideias de negócio. As nossas ideias são sempre as melhores... até serem testadas pelo mercado. Ou seja, para transformar uma ideia numa oportunidade de negócio vai uma grande distância, tanta quanto vai do desenvolvimento da oportunidade à implementação do negócio. Evidentemente, muito deste processo pode ser aprendido, sobretudo através da experiência. É isso que constata Stefan A. Sanz-Velasco em "Opportunity development as a learning process for entrepreneurs" (International Journal of Entrepreneurial Behaviour & Research, Volume 12, Número 5).

Mas, muito sinceramente, a aprendizagem é sempre louvável, mas na criação de empresas é desejável que a oportunidade tenha pernas para andar e se transforme em negócio rentável. Investir num negócio só para aprender não parece uma boa abordagem. Há empresas desafogadas que o fazem mas têm noção que ao fim de certo tempo essa aprendizagem tem que gerar riqueza. Não o fazendo, o negócio não é sustentavel.

Dia D para a Dia D

Mudanças no Público noticiadas pela Meios & Publicidade de hoje: "A revista de economia Dia D, distribuída às sextas-feiras como suplemento do jornal Público, vai deixar de chegar às bancas a partir de Março de 2007".

2006-11-05

Connectis

A importância da formação profissional
Por Miguel Gonçalves

Entre outros, a formação profissional assume-se, cada vez mais, como um vector relevante na aquisição e transferência de conhecimento. A formação destina-se em captar um conjunto de orientações, regras, indicações e aprendizagens, quer numa vertente social, quer na componente técnica.

A formação profissional além de ser um vector de criação de conhecimento, prima pelo facto de ser, entre outras, uma das vias que permite a transferência de conhecimento. Esta transferência não passa apenas pela interacção formando – formador, mas também por um triângulo disseminador, associado a fontes externas (por exemplo: empresas).

A criação e transferência de conhecimento além de se realizar formando – formador, também é manifestada pelo relacionamento formando – formando e formando – empresa.

Um caso típico desta interacção é a modalidade de formação denominada aprendizagem – formação profissional em alternância. Este sistema, além da articulação da formação teórica e prática simulada, a qual é ministrada em sala, outra, não menos importante, é realizada com empresas externas, em regime de alternância. Um dos objectivos é a aquisição de saberes.

Os saberes teóricos quando articulados entre si; integrados, disseminados e relacionados com a valência prática, o conhecimento surge não pelo seu somatório, mas sim pela mais valia que a interacção permite produzir.

Este sistema, quando devidamente articulado, permite uma colaboração positiva, um contacto próximo formal e informal, possibilitando um associar dinâmico de vários saberes, experiências e habilidades, em torno de uma actividade, fomentando a criação e a disseminação de conhecimento.

Toda esta dinâmica relacional desenvolvida nesta modalidade de formação promove e potencia a geração e a transferência de conhecimento. É uma forma que possibilita a transposição de fronteiras e é um instrumento fundamental na criação e na partilha de valor acrescentado.

Miguel Gonçalves, licenciado em Gestão de Empresas, pelo Instituto Superior de Línguas e Administração de Santarém; é Técnico Superior no Instituto do Emprego e Formação Profissional; possui um mestrado em Contabilidade e Administração promovido pela Universidade do Minho, onde apresentou a dissertação intitulada “Redes Institucionais de Conhecimento: Estudo de uma Rede na Indústria Têxtil e do Vestuário”.

2006-11-04

Ele ainda está bem vivo

Quem não conhece o modelo das cinco forças competitivas de Michael Porter? Mais de 25 anos depois, ele ainda está bem vivo. A Strategic Change (Volume 15, Número 5) dedica-lhe o artigo "Rethinking and reinventing Michael Porter's five forces model" de Tony Grundy. Não li ainda o texto integral, mas aposto que tanto o título deste artigo como o proclamado no resumo pecam por excesso de ambição do seu autor. Desde logo, existe um conjunto de pressupostos de partida que, confesso, tenho muita dificuldade em aceitar. Haverá aqui provavelmente alguma criatividade mas temo que escasseie a substância.

"Michael Porter's five competitive forces model has been a most influential model within business schools but has perhaps had less appeal to the practising manager outside of an MBA and certain short business school courses. In this article it is argued that whilst there are a number of reasons why the model has not achieved greater currency, most importantly it can be developed a lot further. The paper looks at a number of important opportunities for using Porter's model in an even more practical way, including: mapping the competitive forces, which can vary significantly over market and competitive terrain and within the same industry; understanding its dynamics; prioritizing the forces; doing macro analysis of the sub-drivers of each of the five forces; exploring key interdependencies, both between and within each force."

2006-11-03

Episódios da vida académica 6

Hoje a Maria João Corte-Real apresentou-se ao serviço. Fui recrutá-la à Universidade de Cambridge. Sim, porque aqui somos um pouco como o Governo; só nos damos com universidades de Cambridge para cima. Com algumas diferenças: não precisamos de longos meses de negociações, cerimónias e adiamentos; não houve tanta engonha como nas negociações com o MIT; e, como podem ver, os discursos são muito, muito curtos, e só depois de estar tudo preto no branco. A Maria João trás uma licenciatura em economia pela Universidade do Porto, e estudos de pós-graduação pela Universidade de Kent e pela Universidade de Cambridge. Trás ainda bastantes anos de experiência de investigação em Inglaterra e espero que traga também muita vontade de trabalhar, que é de pessoas assim que estamos mais carenciados. De resto, espero que esta seja uma forma de regressar ao seu país depois de longos anos lá fora. Continuando a fazer investigação como idealmente é desejável. O que lhe oferecemos não é materialmente o mais atractivo, mas espero com os demais investigadores com que trabalho recebe-la bem e provar-lhe que tomou uma decisão acertada.

Rede2020 aqui ao lado

Acabo de colocar na coluna aqui ao lado direito, o número de Novembro-Dezembro da Rede2020 (Volume 2, Número 6), um projecto associado a Empreender. Este número foi já distribuído pelos seus assinantes na passada semana, mas poderá ser agora extraido aqui ao lado. Para recebe-la gratuitamente basta introduzir o seu e-mail no espaço intitulado "Subscreva a Rede2020" e clicar. Tão simples quanto isto.

2006-11-02

Lodo no cais e peixe na doca

Esta manhã, um grupo de pescadores barrou a entrada na lota de pesca de Esposende. Nas declarações prestadas à Antena 1, não foi fácil perceber as palavras e argumentos de um dos pescadores, talvez o líder. Dizia ele que as fanecas eram-lhe pagas a não sei quantos cêntimos, as navalheiras a outros tantos cêntimos e que ao fim de um dia de trabalho, o que arrecadava não dava para pagar os 30 euros do gasóleo. Assim não valia a pena trabalhar, concluía ele. Era, certamente, um bom pescador, mas o homem não se fazia entender e não conseguia articular um argumento. A conversa não passava de navalheiras para baixo e fanecas para cima. Baixa produtividade, pensei em primeiro lugar.

Depois lembrei-me duma intervenção realizada há escassos dias pelo ministro da agricultura, desenvolvimento rural e … pescas. Uma intervenção delicada, diplomática, a rimar com o seu bigodito de oitocentos. Fiquei muito curioso. Basicamente afirmou que não fazia sentido manter a Docapesca a funcionar no modelo actual. Balbuciou possíveis soluções que para bom entendedor não passavam de diferentes formas de privatização. Percebeu-se que havia ali algo a desmantelar.

Finalmente, mesmo sem grande experiência de ir ao mercado do peixe, ocorreu-me que nem mesmo umas sardinhas custam menos de dois euros por quilo e não me recordo de qualquer espécie a menos de cinco ou seis euros por quilo. Onde ficará a gorda, muito gorda margem que vai entre os cêntimos do pescador e o preço ao consumidor final? Fui investigar.

Para quem a relação com a Docapesca não passa de ver umas lotas na costa, comecei por constatar o seguinte pelas próprias palavras da empresa:

"A Docapesca Portos e Lotas S.A. tem a seu cargo a prestação de serviços da primeira venda de pescado em regime de exclusividade, no continente. É constituída pela Sede, em Lisboa, onde funcionam os serviços centrais e por 14 Delegações, que abrangem 20 lotas principais e 50 postos de vendagem em pequenas comunidades piscatórias. A Docapesca presta ainda um conjunto de serviços de apoio a armadores, pescadores, comerciantes de pescado e outros clientes, dos quais se salientam, aluguer de armazéns para comerciantes e armadores, entrepostos frigoríficos, mercados de 2ª venda, venda de gelo e combustíveis. É, além disso, a entidade que detém e trata os dados relativos ao pescado transaccionado nas lotas do continente."
Dito de forma mais simples, estas palavras indiciam que se trata duma empresa monopolista que controla o primeiro degrau da distribuição grossista de peixe em Portugal. Avaliando bem as palavras da própria empresa, recolhidas no seu sítio na internet, dá para perceber que além do "regime de exclusividade", a Docapesca presta um conjunto de serviços que mais não fazem do que aumentar o seu poder. Só isto permite que a empresa, mesmo fazendo parte de um país que tem abatido a sua frota pesqueira, se apresente como "a maior empresa europeia a actuar no sector das pescas, quer a nível geográfico, quer pela diversidade dos serviços prestados". É detida em 100 por cento pelo Estado e como monopólio público que é dá prejuízo.

Depois de ter concluído tudo isto, fiquei a perceber muito melhor o pescador de Esposende. Ele e os seus colegas querem uma coisa tão simples como ter a liberdade de poder vender peixe directamente ao público. Trata-se dum movimento empresarial de integração vertical a jusante (termo deveras caro para um pescador de navalheiras), visando aproximação ao consumidor final. É um movimento vedado administrativamente que Empreender tem dificuldade em aceitar. Definitivamente, parafraseando o célebre Há Lodo no Cais, é caso para dizer que (não) há peixe na doca. Siga os desmantelamento.

2006-11-01

Malefícios do PowerPoint

Eu também me esforço por fazer "power-points" atractivos, bonitos. Mas não os disponibilizo aos alunos. Demorar-me-ia em explicar porquê, mas parece que não estou isolado na minha convicção. De acordo com o Times Higher Education Supplement, há motivos válidos para não disponibilizar estes suportes aos alunos: "Plagiarism and cheating by today’s cut-and-paste generation of university students will never be stamped out unless lecturers stop spoon-feeding them a diet of handouts and PowerPoint presentations, a leading academic said. Baroness Deech, head of the students’ complaints watchdog, said that the way in which education was now “packaged and delivered” just like any other product had dulled students’ sense of inquiry and spirit of adventure. One consequence was that they were more tempted than previous generations to cut and paste work from the internet and pass it off as their own, rather than to explore and find their own answers to questions. "

Co-localização fomenta inovação?

Quem responde afirmativamente à questão colocada é Niels W. Ketelhöhn em artigo saído do Journal of Economic Geography (Volume 6, Número 5, pp. 679-699) que se intitula "The role of clusters as sources of dynamic externalities in the US semiconductor industry".

"This article investigates the effect of proximity to buyers and uppliers on the local output of cited patents in the US semiconductor industry. Consistent with Michael Porter's cluster theory (1990 and 1998), I find that co-location with important buyers is associated with higher levels of industry innovation. The evidence also suggests important effects of local diversity and specialization in the industry. The article also examines the evolution of the geographic concentration of the US semiconductor industry from the early 1960s to 1997, and reviews the most important sources of knowledge spillovers for the industry"

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